“Olha! Vem aí chuva", é a frase que ainda ouvimos, sempre que entra pela janela o som da gaita do amolador.
Este trabalho fotográfico é uma homenagem poética ao amolador, uma figura que percorre as ruas com uma gaita melodiosa e característica, uma nota continua e um deslizar rápido sore as restantes, anunciando a sua chegada acompanhada pelo prenúncio de chuva.
O Sr. Luís, protagonista desta narrativa visual, é o guardião de uma arte ancestral que aprendeu com o pai. Cada fotografia captura a essência de um ofício que é muito mais do que afiar lâminas, a reparação de um chapéu de chuva; é um testemunho da qualidade do trabalho feito à mão e da tradição transmitida de geração em geração.
As imagens revelam o Sr. Luís em momentos de concentração e dedicação, onde o som da pedra de amolar e o brilho das lâminas restauradas ecoam a beleza da simplicidade e da maestria artesanal. Com mãos calejadas e olhos que viram décadas de transformação, ele representa um elo com o passado, lembrando-nos da importância de preservar o que é feito com carinho e excelência.
Reparar os nossos objectos é um hábito que se está a perder, o consumo desenfreado, a pressa, o acesso fácil à reposição de algo que se estragou, a fraca qualidade dos objetos que adquirimos hoje em dia, faz com que o privilégio de dar uma longa vida a algo de qualidade seja só para quem tem as memórias do passado como referência e um pensamento sustentável para o futuro. 
"Olha! Vem aí chuva" é mais do que um simples registro fotográfico; é uma celebração do artesanato e da tradição, uma ode à memória e à sua continuidade. Através da lente, sentimos o pulsar de uma cultura que valoriza o que é feito à mão, onde cada afiar é um ritual e cada toque é uma herança viva.
Que estas imagens inspirem um novo apreço pelo trabalho artesanal e pela história que carregamos em cada gesto simples e duradouro.

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